segunda-feira, 3 de outubro de 2011

me curte?

Não me lembro exatamente como eram os relacionamentos interpessoais há uns cinco, seis anos. Não sei dizer exatamente tudo o que mudou neles, mas uma coisa lembro bem: éramos pessoas muito mais tranqüilas. E acredito que o fato de as pessoas hoje em dia estarem tão neuróticas na hora de lidar com os outros é a internet. Sim, a internet, que deixa essa gente tão ansiosa e sedenta por atenção.

Quando comecei a usar esta ferramenta não existia twitter, nem facebook, nem Messenger. Nos contentávamos, inocentemente, com ferramentas como Irc, que serviam de entretenimento. Porém, isso em grande parte dos casos acontecia somente depois da meia-noite, afinal nenhum dos meus amigos era rico para pagar o valor absurdo dos pulsos e suas mães não queriam o telefone de casa ocupado o dia inteiro para que sua cria trocasse bobagem com os amigos na internet.

Com a facilidade do acesso acho que algumas coisas tornaram-se um tanto quanto estranhas. Veja bem, quando a navegação era limitada o contato das pessoas era real. Nos ligávamos, trocávamos cartas e discos, marcávamos encontros e comparecíamos. As relações eram reais. Hoje, me pego rindo sozinha quando vejo a importância que as pessoas dão para as relações virtuais. Criam e perdem "amigos" como nunca. Perdem a personalidade, a confiança e o sono. Precisam ser correspondidas com urgência nessa interatividade vazia e passam do dia apertando F5 pra que isso aconteça. Se não acontecer... a frustração é homérica! Enquanto isso, os amigos em potêncial que deveriam ter correspondido deixam de tornar-se interessantes tão rápido quanto a média de vídeos enviados para o youtube por minuto.

‘Se ninguém curtir meu link no facebook corto os pulsos... Se você não responder minha mensagem no Msn é porque não gostas mais de mim... Se não citares meu nome na timeline junto com o das outras pessoas dou piti até virar do avesso.’

Oi gente? Não é através dos bites que você vai construir uma amizade, um namoro, ou qualquer que seja o relacionamento. Isto é muito pouco para criar laços. Sem hipocrisia, também passo grande parte do meu dia em frente ao computador e das redes sociais, mas acho que sei lidar de uma forma saudável com isso. Meu único protesto com isso tudo é que valorizemos um pouco mais aquilo que realmente tem valor, afinal, um Alô bem feliz, um abraço bem apertado, um encontro com os amigos, um bilhete escrito à mão, um sorriso visto nos olhos... estas são coisas que realmente não tem preço.

né? :)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

perder,

Em um período de apenas dois meses acho que aprendi algumas coisas sobre o verbo ‘perder’. Coisa que trafegava distante de meu cotidiano hoje se faz tão presente que vejo por todos os lados... na casa – no momento inabitável -, no sono que não vem, na saudade que não passa, na preocupação que me faz comer o canto das unhas e dedos, no futuro que, por pouco, assusta.

Perdi tudo que existia dentro de minha residência. Aquele canto que me alentava, que guardava minhas memórias, meus livros, minhas fotos, meus CDs valiosos deixados de herança e milhões de coisinhas mimosas que fazem parte do meu passado foi levado pela água e tomado pela lama. Hoje, completamente vazia, está ocupada por um nada que não lodo, pó e sujeira.

Já não tem mais cozinha, não tem mais sala, não tem mais banheiro, já não tem tanta paz.

Em meio a toda esta destruição poderia estar desesperada, inconsolável, desanimada, não fosse pelo fato de que há pouco aprendi o que é perder aquilo que realmente tem valor. E essa dor não se iguala(!).

Eu via minha avó por todos os cantos daquela casa. Na cozinha me preparando guloseimas, na sala xingando a televisão, na rua regando as plantas ou em qualquer outro cômodo para o qual me locomovesse. Sei que depois de toda essa ‘lama e caos’ a casa não será mais a mesma. Felizmente temos forças e condições suficientes para nos reerguer. As coisas, são apenas coisas. O que foi perdido pode ser novamente comprado. Menos, a presença dela. E mesmo que toda mobília seja renovada, que toda a casa seja reformada, tenha as paredes pintadas e esteja novamente perfumada, ela, ainda vai estar lá.


No domingo enquanto retirava a lama do chão e paredes, lembrava que naquele exato dia comemorarias 70 aninhos, e se toda esta ‘grande perda’ não tivesse se instalado entre nós, felizes, comemoraríamos.

terça-feira, 26 de julho de 2011

desabafo.

Engraçado, logo cedo descobri que hoje é o dia da avó/avô, logo hoje... Logo hoje que se completa uma semana que minha avó se foi.

Tem sido difícil vózinha. Os dias até que andam bem, grande parte das pessoas ao meu redor têm sido queridas, têm sido generosas, atenciosas. Não tenho me sentido tão triste enquanto o sol está a pino e a cabeça está a mil com coisas do trabalho. O problema é chegar em casa. Quando abro o portão quase que grito como sempre fiz; "Oi vó!", quase abro sua porta com nenhuma delicadeza e te faço pular no sofá. Quase vejo nós duas rindo do susto que levaste, e quase tomamos um café juntas... te conto meu dia enquanto mimas a Vitória com pedaços de pão com margarina.
Quando deito na cama, tudo piora, e as lembranças ficam ainda mais nítidas. Ontem tentei ler, e lembrei de como ficavas orgulhosa de abrir a porta do meu quarto sem bater e me ver deitada na cama devorando um livro ou outro. Não falavas nada, apenas sorria.
Lembro tão fortemente de como cantávamos vez-em-quando; "Teresinha de Jesus, numa queda foi ao chão..." Eu cuidava de cantar a primeira estrofe e você, a segunda.
Tua presença é extremamente viva nesta casa, ao menos para mim. Teus móveis estão aqui, algumas das tuas roupas estão em mim, alguns temperos e segredos estão em nossa comida e teu amor está em nós. Mas mesmo que tudo se vá, o último para sempre permanecerá.
Difícil lidar com essa coisa de perder. Você sabia que eu nunca tinha vivido isso, e como está sendo duro ter que aprender sentindo tua falta.
Hoje na missa, odiei todas as pessoas que estavam acompanhadas de suas avós, porém logo lembrei, que uma igreja não é lugar para ódio e sim, amor - apesar de não frequentá-las, aprendi muito sobre igrejas com você - e quando deixei de lado aquela inveja, me culpei por nunca ter te levado a uma missa especial de avós.
Me culpei por não ter ficado um pouco mais com você na última noite no hospital e por não ter te dito Eu te amo mais uma vez.
Eu te amo.
E espero que onde quer que estejas, escute eu te dizendo e te repetindo isto todas as noites, e todas as manhãs, e todas as vezes que lembro de ti ao longo do dia... e todas as vezes que vou lembrar.
Fica com Deus.



segunda-feira, 27 de junho de 2011

descartei a razão.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

"É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão.
O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber ver"

(Gabriel Garcia Marquez)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Uma cabeça que lateja,
um par de olhos que pesa,
um pensamento que congestiona,
um coração que sorri.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

sentou-se passivamente a espera do entrevistado,
recostou a cabeça na parede fria,
sentiu os olhos queimando, eram lágrimas que preenchiam aquele olhar vazio.
Nada pessoal, nada pessoal,
sabia que era o cansaço que lhe derrubava o corpo
e angustiava a mente.
Levou a ponta dos dedos até os olhos, e pressionou com precisão.
Avistou o senhor grisalho aproximando-se,
engoliu a tristeza,
simpática, sorriu.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

-something

Tão piegas voltar aqui para falar da vida, tão clichê. Mas ao mesmo tempo penso que não existe nada mais bonito para se abordar, afinal, essa coisa intitulada "sua vida" é tão multi facetada e por isso consegue ser sempre tão encantadora.
Digo, em todos os sentidos, afinal, o sofrimento também é belo. Ah, que seria das almas artistas (como ando ouvindo por aí) se não fosse ela, essa dor que faz transbordar.
Que seria deste tão empoeirado blog que me abre sinceros caminhos em momentos da mais perfeita reflexão, digo, não perfeita, quem sabe profunda.
Penso na dor, e vejo que talvez seja ela apenas um portal de entrada. Para o que há de vir.
Penso e insisto que esse oquehádevir é sim um hádevir lindo, feliz, porque não?
Porque sim.
Porque estas coisas universais que posso até apelidar de vibrações me dizem que sim, porque estes filmes maravilhosos me dizem que sim, porque estas músicas maravilhosas me dizem que sim, até o cheiro do restinho de vinho que já azedou ao lado da cama me diz sim.
E eu concordo. Eu concordo.
Não, isto não é um artigo de auto-ajuda, caro leitor.
É uma sensação, de eufórica alegria após ver um filme que me fez chorar litros,
e causou um alívio imenso.
Alívio imediato, parafraseando Humberto Gessinger.
Alívio de bem, e de mal, e daquilo que hadevir-e-euseiquevem.



"Não é impossível ser feliz depois que a gente cresce, só é mais complicado"
[de As melhores coisas do mundo]

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Moonlight Mile

Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.” (Caio F.)

Essa coisa de vida, viver, conhecer, apegar, perder, sempre acaba nos tornando mulheres pessoas cada vez mais frias, traumatizadas, enraizadas em seus medos. Como escudos criados, escondemos o que mais bonito há aqui dentro, e que geralmente se deveria doar: sentimentos. Sim são eles, mais uma vez são eles. Que me fazem ter novamente vontade de escrever, de expandir, de escoar...

No entanto, hoje também são eles que me fazem ter vontade de recuar. Mais seguro. Mais seguro não ter no que se agarrar ... se agarrar naqulino que não seja nada além de teus amigos, tuas noitadas, teus livros, filmes e crises de ansiedade.

Desistir? Não, resignar. Continuar, no entanto, por muito longe, afatastando até quando puder/quiser, aquilo que já foi tão belo, mas que hoje, faz doer. Fez crescer.

domingo, 20 de março de 2011

17:26

Escrevo porque não sei fazer música. Se soubesse ler partituras e articular notas harmônicas, não me arriscaria nessas linhas tortas e analfabetas. A música é uma forma de comunicação muito mais eficaz e perene. Qualquer canção permanece por mais tempo no imaginário do que o melhor dos textos literários. Mas é preciso ter ouvido sensível e alma dançante. Como não fui capaz de desenvolver tais habilidades, fiz a faculdade de Jornalismo. Na verdade, queria ser escritor, mas logo descobri que seria emparedado pelas regras de objetividade da imprensa diária. As páginas a seguir representam uma tentativa de quebrar essas paredes. Mas não se iluda, caro leitor. Dizem que o bom texto segue padrões musicais. Tem ritmo, harmonia e sonoridade. Se você possui essas três qualidades, largue logo este livro e corra para o piano. Não perca tempo com a Literatura. Muito menos com o Jornalismo.Preocupe-se apenas com a melodia.

Felipe Pena

domingo, 13 de março de 2011

Envelheço na cidade.

quinta-feira, 10 de março de 2011

(...

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que se quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado do que quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.


Miguel Esteves Cardoso